A vida nos
presenteia, a cada instante, com tudo que precisamos para crescer. A questão é
saber se realmente queremos crescer. E o que é crescer? Crescer para mim, hoje,
é me aceitar. Aceitar aquilo que penso que sou, aceitar aquilo que os outros
pensam de mim, aceitar aquilo que ainda não sei sobre mim mesma. Aceitar-me
implica não mais esperar pela aceitação dos outros e não depender mais disso
para ser feliz.
Me vejo
olhando para memórias que estavam muito bem guardadas, trancafiadas até, para
lugares dentro de mim onde nunca entrei. A cada dia renovo a coragem, o amor e
a compaixão necessários para fazer uma viagem como essa.
Há tempos,
quando fui para o Nepal, tive a oportunidade de pegar um bimotor e ver o Monte
Evereste bem de pertinho. Eu sempre tive vontade de ir a lugares longínquos,
distantes de tudo e de todos, pois imaginava que num desses lugares iria encontrar
todas as respostas que procurava. Mas quando cheguei lá, quando estava de cara
com aquelas montanhas suntuosas, com toda aquela grandeza e beleza, percebi que
aquilo tudo era vazio, ou seja, que o que eu buscava não estava ali. Nada
aconteceu dentro de mim, nenhuma mudança, nenhuma mágica ou algo especial.
Esses dias,
lendo um livro budista, da Pema Chödron, me dei conta, pela primeira vez,
depois de tantos anos lendo e relendo livros como esse que o Caminho do Meio,
do qual Buda falava, era o caminho sem direção, o caminho da não-ação, sem
movimento, sem ambições. O caminho de parar e olhar para si mesmo.
Na minha vida
toda eu fiz planos, e todo ano fazia metas e consegui atingir muitas delas.
Minhas metas me davam direção e, assim, eu estava sempre em movimento. Esse é o
pensamento comum, de que precisamos ter sonhos, ter metas, saber aonde queremos
ir para poder caminhar. E, mais que tudo, precisamos caminhar, nos movimentar
na vida.
Mas há tempos
vinha sentindo a necessidade de parar esse movimento e de, finalmente, me
aquietar. Um acontecimento especial trouxe a oportunidade e decidi que tinha
chegado a hora de fazer a roda (da vida) parar de girar.
A grande
viagem da minha vida está sendo a viagem para dentro de mim mesma, sem planos,
sem projeções para o futuro, um movimento sem movimento. E nessa viagem,
aceitação tem sido palavra-chave, algo recorrente nas reflexões do dia a dia.
Essa
experiência foi muito sofrida no início, mas agora está começando a ser
prazerosa, pois estou gostando de estar só, comigo mesma. Parece estranho
afirmar algo assim, mas não é. Explico. Eu sempre busquei companhia, nunca
gostei de ficar sozinha. Eu podia ficar sozinha a manhã inteira fazendo minhas
tarefas, até dias sozinha, mas eu precisava saber que eu tinha alguém, que
alguém preenchia a minha vida, a minha mente. Então, minha mente estava sempre
em movimento, na direção de alguém, na espera, na expectativa. Mesmo quando não
tinha ninguém, estava à procura. A mente estava ocupada com a busca. A mente
estava sempre direcionada para fora, nunca para dentro.
Viajar para
dentro de mim mesma tem sido uma experiência incrível. Como é bom me olhar no
espelho e ver minha própria imagem. Como é bom me tocar e sentir minha própria
pele. Como é bom, enfim, estar comigo mesma. A descoberta mais incrível,
recente, atual mesmo, é que estou gostando de mim. Isto não é nada óbvio,
embora devesse ser. É um aprendizado: diário, constante, às vezes difícil.
Tanto já foi
dito que devemos primeiro amar a nós mesmos para poder amar o próximo, mas isto
realmente não é algo que experienciamos. O mais comum é não conseguirmos amar
verdadeiramente os outros porque simplesmente não nos amamos e porque, nem
sequer, nos conhecemos ou re-conhecemos.
Viajar para
dentro é re-conhecer que sou bonita muitas vezes, mas muito feia em outras
tantas. Que sou amável, mas às vezes odeio certas coisas e pessoas e sinto
raiva. Que eu sou competente em muitas tarefas, mas também erro, cometo falhas,
sou imperfeita. Que tenho amigos, pessoas que gostam de estar comigo, mas que há
pessoas que preferem me ignorar ou que não querem me ter por perto. Que sou uma
boa professora em parte do tempo, mas terrível em outra parte. Que sou boa, mas
não sou a melhor. E por que teria que ser?
Nesta viagem
descobri que o caminho da aceitação é o caminho da não-dualidade, da
não-exclusão, da integração de tudo que está dentro de mim. Que eu não preciso
rejeitar certas partes, deixando-as na sombra, na escuridão e sofrendo,
infinitamente, por rejeitá-las. Que eu não preciso ser a menina boazinha e
certinha todo o tempo para poder existir neste mundo. Que eu, finalmente, posso
ser quem eu sou...
Escrito em 05/10/2016
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