Vivo e escrevo. Choro e escrevo. Sinto e escrevo. Sou feliz e escrevo. Escrever é meu sossego, é meu alívio, é minha pílula calmante. Através da escrita eu penso, eu sinto, eu me conheço, eu me desnudo, eu me EXPRESSO. Escrever já faz parte de mim, do que sou, do que quero ser.
Eu tenho a ânsia de me expressar e,
ao fazer isso, eu me compreendo e, assim, aquieto minha mente. Minha mente
agitada precisa “criar”, dar forma ao conteúdo caótico que se passa dentro de
mim. Quando escrevo, organizo, seleciono, crio.
Mas escrevo também para ser lida,
para afetar, para mostrar possibilidades... Os leitores encontrarão nos meus
textos outras Carlizas, personagens de mim mesma, desconhecidas para a maioria
deles. Gosto de me expor. Ao me expor eu toco, eu mexo, eu provoco...
Olhando para minha escrita, a vejo
como uma escrita do interior. Eu foco aquilo que se passa dentro de mim, à
medida que experiencio a vida. Este estilo de escrita revela meu modo de ser
introspectivo, um estilo muito pessoal, em que me isolo do mundo para me
observar e refletir. Observar o que se passa na mente, o que penso, o que
sinto, por que me angustio, por que me alegro, por que estou triste ou feliz.
Estar comigo mesma em profundidade é tão necessário para mim quanto respirar,
comer, dormir.
Gosto
de pensar a escrita como uma tentativa de mostrar a beleza de cada situação,
seja ela trágica ou engraçada. Ao escrever, emolduro a minha realidade, faço
arte da minha vida e ela se torna mais bela e mais prazerosa de ser vivida.
Através
da escrita eu crio e recrio a minha realidade. Os textos não traduzem uma
verdade permanente, mas o que senti no momento em que escrevi. Minha escrita
flui junto com a emoção e com a reflexão dos acontecimentos. Vejo meus textos
como possibilidades de mim mesma, não que eu as esteja concretizando, mas são
alternativas sempre disponíveis. Este é o significado dos textos para mim: são
como portas que se abriram um dia e que permanecem abertas. São possibilidades
sempre disponíveis que me trazem a liberdade a que tanto aspiro.
Mas
nem sempre minha escrita traz consigo essa promessa de liberdade. Nem sempre
ela flui livremente. Aprisiono-me, quando, na ânsia de encontrar uma forma mais
bonita e perfeita de me expressar, deixo de escrever porque não a encontro.
Aprisiono-me, quando, na ânsia de ler mais e mais para ter conteúdo para meus
textos, perco aquilo que quero dizer e fico refém do dizer dos outros.
Meu
desafio tem sido encontrar aquilo que eu quero dizer, o que é mais
profundo em mim, por mais que saiba que não há um eu puro e que o texto,
expressão desse eu, é sempre resultado de várias vozes. Busco dentro de mim
algo que não encontro fora.
Às
vezes busco modelos, como se houvesse uma voz interna que diz que o que escrevo
não é o que “deveria escrever”, que não é o “melhor”, que não é “literatura”,
que não é “isso ou aquilo”. Quando dou ouvido a essas vozes, que me impõe um
ideal de escrita, me sinto completamente incapaz e não escrevo.
Quando
me vejo assim, tento aceitar minhas limitações, aceitar que posso não ser tão
absolutamente original quanto gostaria e continuo escrevendo. Procuro pensar
que os modelos são apenas modelos, que não podem e nem devem servir para todos,
e que eu sou única na minha singularidade.
Por
fim, escrevo por rebeldia, para dizer não aquilo que me aprisiona, para
enfrentar meus medos, para criar linhas de fuga. A escrita, para mim, é um
grito de liberdade.
Texto escrito em 2006, quando iniciei as oficinas de escrita no Curso de Pedagogia da UCS.
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