Grande parte da minha vida tentei ser quem não era. Nunca aceitei as limitações da minha existência e sempre quis ir além. Essa característica de querer transcender os limites pode ser uma qualidade ou um grande defeito, dependendo da intensidade. Não ficar preso às limitações da vida e da própria subjetividade e querer melhorar e se esforçar para isso é positivo, é algo que impulsiona o ser humano. Mas pensar que não há nenhum limite e que tudo pode ser ultrapassado pode virar uma arrogância, um sentimento de superioridade, de estar acima de tudo e de todos. O equilíbrio necessário da balança não é algo fácil de conquistar.
Vivo, desde muito pequena, um
conflito entre o que sou, minha subjetividade real e o que gostaria de ser, de
me tornar. E parece que a balança sempre pendeu para o ideal. Eu muito cedo
quis ser adulta e não vivi minha infância, muito menos a adolescência. Eu quis
tanto ser o ideal de mim mesma que me perdi de quem eu era, do ser humano
falível que sou.
Quando pensei que sabia muito,
que tinha atingido um patamar elevado, percebi que na verdade não sabia nada de
nada e menos ainda de mim mesma. Dizem que quanto mais alto estamos, mais forte
é a queda.
Estou vivenciando esta
queda. Mas consigo ver algo de belo nisso, mesmo na dor: a beleza da mudança,
que sempre me fascinou. Eu sempre admirei pessoas capazes de se transformarem.
E eu quis mudar, mudar
muito e num ritmo tão acelerado que me tornei violenta comigo mesma, quase uma
suicida.
A mudança não pode ser
imposta; ela acontece. Podemos e devemos nos esforçar, criar metas, aspirar,
mas não se pode mudar o que não está pronto, o que não amadureceu. Não se pode
fazer crescer uma árvore quando não existem todas as causas e condições
adequadas para que o crescimento aconteça. Hoje, com a tecnologia, podemos,
aparentemente, fazer “milagres”, mas ainda não sabemos as consequências desses
novos frutos nascidos de uma ciência que se considera livre de qualquer
restrição.
Para mudar, é necessário tempo,
o tempo da espera, da paciência, bem como do esforço. A mudança é um processo,
uma construção, não um milagre. É necessário caminhar sempre, sabendo o
objetivo, mas sem pressa. Não podemos saltar quando recém aprendemos a
engatinhar e muito menos voar. O foco tem que ser o processo, não o resultado.
Quantas e quantas vezes eu ouvi e li sobre isso na minha vida! Mas nunca aprendi
de fato. Eu sempre quis o resultado. Sempre quis estar no final da linha.
Sempre no ponto de chegada.
Eu quis trilhar um caminho veloz,
muito veloz. Velocidade e fúria parecem ser uma combinação perfeita. “Velozes e
furiosos” é o título de um filme que há anos faz sucesso nos cinemas e que já está
na sua oitava versão. Filme para crianças e adultos que querem acreditar que
podem fazer qualquer peripécia com seus carros velozes sem se machucar, e ainda
sair vivos no final.
Na gana de conquistar, de
querer dirigir um veículo mais veloz do que era capaz de manobrar (como o ator
do filme que acabou morrendo, de verdade), eu topei contra um muro. Há muros
que não são tão fáceis de ultrapassar. E é preciso humildade para reconhecer
esses limites e saber a hora certa de tentar avançar. Há muitas histórias de
alpinistas que perderam a vida por quererem chegar ao topo da montanha a
qualquer custo. Há exemplos de sobra, na história, da ganância e suposta
supremacia de alguns povos e das tragédias que causaram para a humanidade, para
nos ensinar sobre isso.
O que eu pensava ser minha
maior qualidade, se tornou meu maior defeito porque eu não soube colocar a
pressão certa na hora de acionar o botão.
Agora só me resta
recomeçar. Juntar os pedaços que sobraram dessa queda e tentar me reconstruir. Sem
nenhuma pressa, sem nenhuma violência, sem nada de fúria. Só amor e compaixão para
comigo. Aceitação, carinho, acolhimento, PACIÊNCIA E HUMILDADE.
Essa noite sonhei que
pegava um bebê em meus braços. Eu sorria para ele e fazia cosquinhas na sua
barriga. E ele ria, ria um riso encantador, um riso de uma criança feliz.
Acordei me sentindo bem. E pensei que ainda há um caminho longo para ele se
tornar adulto. E que quero curtir essa fase infantil enquanto ainda posso tê-lo
nos meus braços!!!
Escrito em 02/06/17
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