As coisas mais importantes da vida levam tempo. Tempo é palavra-chave.
Eu preciso de tempo. O tempo é precioso para mim. Há alguns
anos decidi trabalhar fora só um turno. Isso vai contra a tendência usual. Eu
tenho tempo, porque me dou este tempo. Eu me dei, me presenteei com um tempo
para mim. Um tempo para fazer as coisas que são essenciais na minha vida:
pensar sobre mim, meditar, fazer minha própria comida, levantar de manhã e
tomar café sem pressa, fazer meus exercícios físicos, gerar uma intenção
positiva para o dia.
Mas não foi sempre assim. Foi um caminho árduo e trabalhoso.
Tenho descoberto que pensar em mim mesma, ficar comigo, enfrentar a solidão e o
vazio da vida é também trabalho, trabalho pesado. Tudo depende da perspectiva
com que se olha. E sempre há muitas, infinitas perspectivas.
Outro dia me peguei dizendo para minha terapeuta que eu não
trabalhava de manhã. E ela me indagou: “Trabalhas em casa, certo?” “Sim, claro,
trabalho em casa.” Dar-se tempo para pensar na existência também é trabalho.
Quando me dou tempo, me conheço, reflito sobre minhas ações, tento buscar
outras alternativas, tento compreender o sentido de tudo que estou vivendo. E,
assim, também me torno um ser humano melhor para os outros, para a
sociedade.
Chegar a esse ponto de aceitar ficar em casa à toa, sem uma
agenda prévia, sem ter que fazer isso ou aquilo foi uma luta. Sempre fui uma
pessoa que cronometrou o tempo. Minhas alunas da universidade ficavam
impressionadas porque eu, ao iniciar a aula, entregava o roteiro da aula com o
tempo pré-determinado de cada atividade. Até hoje ainda faço isso com meus
alunos pequenos. Apesar de já ter me dado conta disso inúmeras vezes, ainda me
pego repetindo o mesmo padrão.
Tive que abrir mão, aos poucos, daquilo que pensava ser uma
necessidade, mas não era. Correr todo tempo não é necessário. Estar em
atividade incessante também não, apesar do mundo inteiro dizer o contrário. “Por
que tenho que ter pressa?” Essa pergunta de um amigo ficou martelando na minha
mente. Por que temos que ter pressa???
Apesar da corrida contra o tempo ser uma característica da
sociedade em que vivemos, cada ser percebe e age diferente. Cada um tem esse
direito, mas nem sempre tem esse poder!
A corrida contra o tempo foi inscrita em mim na minha
infância. Meu pai sempre foi obcecado com a rapidez. Na estrada ele não podia
ficar pra trás, sempre tinha que ultrapassar todos os carros. Essa era também a
velocidade impressa no dia a dia. O tempo das crianças nunca foi considerado.
Lembro da tensão que era cada vez que tínhamos que sair de casa. Ele não
suportava esperar a família se organizar ou parar na estrada para fazermos
xixi. Até hoje ele não gosta dos feriados, porque diz que a produção para.
Tempo é dinheiro!!!
“Sim, tempo é dinheiro, pai, mas não é só o dinheiro que
movimenta a economia. As paixões, o desejo também movimentam a economia. Se não
fosse assim, ninguém venderia nada. E a vida também não é só economia ou o desejo
de consumir, não é só paixão instintiva. É desejo de liberdade, de amor, de
carinho, de fazer o bem, etc, etc, etc.”
Correr pode até ser necessário em alguns momentos da vida.
Não discordo disso. Mas nem sempre, nem todos os dias, nem todos os meses e,
muito menos, a vida toda. Parar, sim, é necessário. Parar o movimento para
olhar para si mesmo é absolutamente necessário. Pensar sobre o sentido da vida,
pensar porque nos sentimos vazios, é fundamental. Assim como não se respira
direito correndo, também não se vive direito correndo.
E eu quero viver, viver intensamente esta vida que me é de
direito!!!
Escrito em 12/05/17
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