Depois de nove anos de um relacionamento feliz, me vejo sozinha. Sozinha por opção, pois fui eu quem quis a separação. Ainda me pergunto o porquê da separação e cada vez encontro razões diferentes. Penso que a maior razão é que eu queria/quero descobrir quem eu sou, sozinha. Quero ser independente!?
Como boa pisciana sempre me
misturei com meus parceiros de relacionamentos. Gostava do que eles gostavam,
fazia o que eles faziam. Fiz muita terapia para tentar encontrar quem eu era,
tentando me “separar” dos meus companheiros, porque eu me “identificava” demais
com eles. Durante muitos anos, o título dos meus diários era: o que “eu” quero?
Saber o que se quer nem sempre é
fácil. Nossos “quereres” (existe isso?) estão sempre muito misturados como os
desejos dos outros, da cultura, da sociedade, da família, dos parceiros de
trabalho, dos parceiros amorosos.
E eu, o que quero? O que sou? O
que sou sem a referência do outro? É possível ser sem o outro, sem alguém que
me olhe?
Estar com alguém é ter sempre
alguém que nos olha e que nos diz algo de nós. E, sem perceber, nos moldamos a
esse olhar, a essa referência. Comigo foi assim, me moldei a uma referência
criada não pelo outro, meu companheiro, mas pela relação. E, isso, sem dúvida
alguma, reduz possibilidades, fecha, limita.
Por outro lado, é muito
confortável e seguro. Criamos uma forma de relacionamento onde conseguimos
negociar e chegamos a um ponto em que sabíamos exatamente até onde poderíamos
ir, o que deveríamos ceder, o que poderíamos falar, o que silenciar. Até que
essa forma segura e confortável cansou, se exauriu, perdeu o sentido. Comecei a
perceber que eu não queria mais fazer certas coisas para manter o
relacionamento. E por que tinha que manter? Ah, porque eu era quem nunca
conseguia manter as coisas, era instável e queria um relacionamento estável. E
porque não queria ficar sozinha.
A “deixa” da separação veio
quando, um dia, eu percebi que podia ficar sozinha. Por que não? Depois que
essa ideia surgiu, não teve mais volta. Quando criamos uma possibilidade na
mente, a concretização dela é só uma questão de tempo. Para mim foram semanas.
No começo, os primeiros seis
meses, não consegui estar sozinha. Arrumei uma série de atividades, constituí
novos grupos de amizades, me ocupei de várias formas. Não havia um dia sequer
em que não estivesse envolvida com algo. Mas este tempo passou e, aos poucos,
fui me aquietando, aquietando minha mente.
Minha mente estava ansiando por
calma, por se conhecer, por estar consigo mesma. Quando a mente se acalmou, as
atividades cessaram, os amigos se afastaram e o processo iniciou.
Nada como havia imaginado. Dor
profunda, um abismo, altos e baixos. Olhar para si mesmo não é nada agradável,
nem prazeroso. É difícil, duro, sofrido. Todas as certezas vão por água abaixo.
Não há onde se segurar. Mas é preciso seguir! Como diria meu professor: Keep
going! Vá em frente, siga, não pare. Tudo é impermanente, tudo vai passar. Calma!!!
O “calmo permanecer”!
E assim estou indo. Estar sozinha
me permite olhar para mim independentemente dos outros, dos outros olhares, de
alguém que me aprove, ou desaprove. De alguém que me queira, que não me queira.
De alguém que pense algo de mim ou que se sinta indiferente a mim. De alguém
que me ame ou de alguém que me odeie. Eu
existo, não porque alguém externo me reconhece, mas porque eu me sinto.
Este tem sido um GRANDE desafio
para mim. A todo momento é como se faltasse algo, faltasse alguém. Anseio a
cada instante por alguém que me veja, me toque, diga algo pra mim. Mas não há
ninguém, só eu.
Então, é preciso desenvolver
aceitação, amor e compaixão incondicional por mim mesma, pelo que sou, pelo que
tenho, pelas minhas qualidades e defeitos. Não há ninguém aqui que pode me dar
isso, apenas eu.
Independência ou morte!!!
Texto escrito em 07/09/16, mas
que ainda faz muito sentido hoje.
Me sinto um pouco assim nesse momento!!!😶
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