segunda-feira, 2 de junho de 2025

É PERMITIDO ENVELHECER


Hoje é o primeiro dia da licença de três meses que antecede a minha aposentadoria. É muito bom poder realizar a minha rotina antiga - meditar, fazer ioga - e incorporar novos hábitos como escrever (algo que sempre gostei, mas tinha deixado pra trás), sem pensar que tenho horário pra sair de casa e ir trabalhar. Começo a relaxar com essa ideia, sem fazer disso um bicho de sete cabeças. 


Os anos que antecederam esse momento foram de muita tensão e ambiguidade. Ao mesmo tempo que ansiava por me aposentar, temia ficar sem atividade, ficar sem “objetivos”, não ser mais “produtiva”. Talvez, o que mais temia, era envelhecer. 


Junto com a aposentadoria, vem, inevitavelmente, o envelhecimento e o pavor de envelhecer, de ser excluída, de não pertencer mais à parcela produtiva da população. Envelhecer no Brasil e em muitos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento significa ser relegado a um estado de menos valia, receber salários menores ou ficar sem eles, adoecer e não ter a assistência devida e se sentir abandonado, muitas vezes. 


Entrar nessa sala de embarque do envelhecimento, como diz Ana Claudia Arantes, é se dar conta de que não há mais volta. Antes, na juventude, como diz ela, problemas comuns eram considerados naturais e passageiros, mas agora são atribuídos à idade. Quando nos damos conta disso, estamos ingressando na velhice.


Eu demorei para reconhecer que estava entrando nessa fase e quando tentava falar sobre isso com alguém, ouvia algo do tipo: “Não, tu és muito jovem, cheia de energia, com muita coisa pra viver.” Nossa sociedade insiste em mascarar os sinais do envelhecimento ou negar sua presença. 

 

Neste último ano assisti a muitos vídeos sobre saúde, longevidade e envelhecimento saudável. Acho muito válida essa tentativa de oferecer informações para as pessoas poderem viver mais, mudando seus hábitos de vida, que incluem alimentação, exercícios, ter novos aprendizados, meditação, reposição hormonal (para as mulheres) e continuar tendo uma vida ativa. Mas esse discurso, muitas vezes, traz consigo uma ilusão de que podemos continuar vivendo como antes. E penso que não é assim. As mudanças do envelhecimento são drásticas e bem reais. 


Ana Claudia Quintana Arantes, no livro “Para vida toda valer a pena” mostra que todos teremos que ser cuidados ao final de nossas vidas, alguns antes, outros mais tarde, e precisamos nos preparar para isso. Como vamos viver essa fase depende das escolhas que fazemos agora.  


Viver pensando que vamos chegar aos 80, 90 ou 100 levantando pesos como mostra o médico Uronal Zancan, defensor da “revolução da nova longevidade” não é uma boa forma de se preparar, penso eu. As "novas" medicinas, incluindo a integrativa, têm reforçado essa ideia de uma vida sem perdas. Consultei-me com um médico da medicina integrativa que me disse que se eu fizesse todos os procedimentos que ele me indicava, eu poderia me sentir com 35 anos. E eu pensei, mas não falei: “Mas eu não quero ter 35 anos; só quero poder me sentir menos cansada, mais disposta, sem tantas dores.” 


Para mim, o que esses slogans e ideias estão dizendo é que é proibido envelhecer. Inclusive a palavra velho não pode ser pronunciada, pois é uma ofensa. 


Ontem, para minha alegria, participei de uma conversa com um casal - Fabiana Tomé e Matheus Marcon - sobre sua estadia na Índia durante 70 dias. Eles foram para fazer a formação de yoga e ficaram num Ashram durante 30 dias, praticando uma rotina de completa transformação do corpo e mente. De todas as coisas lindas que eles nos contaram, o que ficou pra mim foi algo que eu já sabia, mas tinha esquecido, sobre as quatro fases da vida, segundo o Hinduísmo. 


A primeira fase compreende o período do nascimento até os 25 anos, que é a fase de aprendizagem. A segunda é a fase de constituir uma família e de se tornar ativo na sociedade. A terceira fase, dos 50 aos 70, é a fase do “eremita”, ou seja, é o “caminho da floresta”, que se caracteriza pelo afastamento da sociedade e o foco no serviço comunitário, na conexão espiritual e na meditação. Esse estágio se trata da preparação para o fim da vida e da renúncia aos bens materiais. É também o estágio de aprofundamento da conexão espiritual. A última etapa ocorre quando a pessoa se aproxima do final da vida e se prepara para a transcendência completa e a liberação dos ciclos de renascimento.  


Relembrei esse ensinamento que já tinha ouvido há anos atrás e que tinha feito muito sentido pra mim com um norte de vida. Neste momento, tão confusa e inquieta sobre o que vou fazer na minha aposentadoria, como será minha velhice, isso chegou com um alento, como um sinal de que o desejo que tenho de parar e de ficar mais reclusa não é sinal de depressão ou de estar desistindo de viver, mas o desejo vital de me conectar com aquilo que é essencial a minha vida, a espiritualidade.  


Sinto, dentro de mim, que preciso parar, aquietar minha mente, não ser tão ativa externamente. E isso vai contra a maioria das ideias que ouço e leio sobre envelhecimento, saúde e longevidade. 


Tenho direito a envelhecer bem e isso quer dizer “parar”, em primeiro lugar. Parar de correr, parar de buscar estar ativa, parar de querer interagir com tantas pessoas, parar de buscar nas coisas externas a minha felicidade. 


O envelhecimento é um processo natural da vida que nos prepara para a morte; que vai nos mostrando, pouco a pouco, que estamos deixando esse mundo. E isso é muito difícil pra sociedade moderna aceitar. É difícil falar sobre isso; isso não vende, não atrai, não dá IBOPE, enfim, é proibido. 


É possível envelhecer com serenidade e paz quando silenciamos todas essas vozes externas e nos conectamos com a nossa natureza pura, que está sempre presente. Ela é a mãe que pode nos acolher, é a casa para onde todos ansiamos voltar e, ao final, é a fonte de nossa felicidade plena. 


Sou grata por fazer parte de uma tradição espiritual, o Budismo e conhecer um pouquinho de outras tradições, como o yoga e o Hinduísmo, que mostram uma outra perspectiva. Pensar na impermanência e na morte, para essas tradições, têm o poder de transformar a mente e de nos fazer encontrar o verdadeiro propósito da nossa existência. 


Aspiro conseguir atravessar esse novo estágio de vida e me preparar para o dia em que terei que deixar tudo. Preparar-me para esse momento é o que há de mais precioso a fazer agora. 


É permitido, sim, envelhecer!


domingo, 18 de agosto de 2024

QUANTO DURA?

Quanto dura...


um café

o silêncio da manhã

um banho

o sabor da comida


o alívio de fazer xixi

o som do passarinho na árvore

ou o pouso dele


um pensamento

uma emoção

uma ação


os passos até a porta

o abrir e o fechar da porta


o nascer do sol

o pôr do sol


uma respiração

o piscar de olhos


uma noite de sono

o despertar


o ferver da água na chaleira


a leitura de um livro

ou parte dele


uma postagem no Instagram

ou o momento fotografado

ou o planejamento do momento na mente

ou a memória dele


um sorriso

um choro

a tristeza

a alegria

a dor

o prazer


o trabalho

as férias

o final de semana


a infância

a juventude

a velhice

a vida

a morte???

 

Quanto dura?


Reflexão produzida a partir da pergunta de Erik Pema Kunsang, no Bodhi Training, em 18/08/24: há alguma coisa que dure?

quarta-feira, 24 de julho de 2024

AMOR E PALAVRAS

palavras, amor, nuances, sutilezas, coração...

o teu amor se esconde/se mostra na constância da tua presença 

tu me afagas com tua completa aceitação de quem sou

o teu amor não está nas palavras, nem nos gestos

o teu amor está/se descortina na surpresa de cada encontro 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

OS LUGARES QUE NOS ASSUSTAM

Faz cinco meses que saí da cidade para morar no interior. Era um sonho antigo. Já tive um sítio aqui na região e tinha pedido remoção do trabalho umas três vezes, sem sucesso. 


Dessa vez saiu. E vim. Deu tudo certo. Consegui uma casa pra alugar e a remoção pra uma escola próxima. 


Os primeiros três meses foram só euforia. Longas caminhadas no entorno, muita coleta de frutas e legumes. Amigos vindo conhecer a casa e a vida nova. Muitos planos também.


Ver um desejo realizado traz muitas emoções. E as vivi intensamente durante algum tempo.

Curti a novidade da vida nova, o silêncio, a quietude da vila onde moro, da casa, dos arredores. 


As idas a Caxias passaram a ser um “evento”.  


Como é bom viver uma nova experiência! E sentir que se fez a escolha certa. 


Então veio o inverno, que chegou muito mais cedo este ano… e o frio, muito frio! E logo depois o COVID. 


O frio congelou não apenas minha casa, meu corpo, mas meu interior. Minha alegria foi se dissipando e comecei a sentir, profundamente, o vazio, e muitas emoções as quais eu sempre quis evitar.


Sem tantas distrações e sem muitas pessoas ao redor, naturalmente a mente se volta para si mesma.


E eu comecei a me enxergar. 


A cada dia me deparo com aquilo que Pema Chödrön chama de “os lugares que nos assustam”. Os lugares que me assustam não estão fora de mim, não são físicos, nem tampouco envolvem as pessoas.  


Começo a perceber que sozinha não posso culpar ninguém; não posso responsabilizar ninguém pelo mau-humor, pela minha tristeza, pela minha irritação ou raiva. Também não posso culpar o frio. O frio que sinto no corpo reflete o frio que sinto dentro: o frio da falta de acolhimento, aconchego, intimidade, amor, afeto. 


E não é porque não tenha pessoas que gostem de mim e que me dêem carinho. É algo mais profundo, muito mais profundo. 


Parece que estou aqui porque decidi não fugir mais, não fugir desses “lugares”, dessas emoções que tanto temi.  


Pema Chödrön diz que permanecer nesses “lugares” e com estas emoções dolorosas é o que pode nos fazer “dar o salto” e nos abrir. É nesses “lugares desconfortáveis” que começo acessar, aos poucos, em doses homeopáticas, o meu calor interno, a bondade e o amor dentro de mim.


E a bondade e o amor se manifestam de formas muito diferentes. É preciso ter “olhos” para ver essas sutilezas.


Nos dias monótonos, em que nada de novo acontece, tenho tentando enxergá-las e valorizá-las na diferença de tons das cores e da luz no por do sol, na laranja que caiu da árvore, na intensidade do fogo que muda com a lenha mais seca ou mais úmida, nas sementes brotando no experimento dos meus alunos, na leitura de cada nova palavra deles, nos dias mais quentes, no lençol térmico e no calor ao entrar na cama, numa visita que chega à casa, numa mensagem carinhosa, nos maravilhosos ensinamentos que tenho recebido de tantos mestres.


O amor não é nada convencional. Por isso precisamos do “salto” para acessá-lo.


Quando fazemos planos ou engendramos sonhos em busca daquilo que chamamos de felicidade, realmente não sabemos o que vai acontecer. Mas mesmo não sabendo, vale a pena experimentar. 


Como diz uma amiga querida, se não temos novas experiências, como faremos as mudanças que queremos na direção da felicidade?  


Estar aqui tem sido uma benção. Não porque tudo é “as mil maravilhas”, mas porque me sinto crescendo e experimentando o amor e a bondade. Como as sementes que brotaram na minha horta ou como aquelas que plantei com meus alunos, eu estou me modificando, pouco a pouco.  


Crescer, amadurecer e ser feliz leva tempo. E é preciso nos dar esse tempo. 


Estar aqui é me dar esse tempo, dar todo o tempo que preciso para cuidar de mim, pra me acolher, pra me acarinhar, pra me dar o calor que apenas eu posso dar. 


Obs.: “Os lugares que nos assustam” é também título do livro de Pema Chödrön, publicado pela editora Sextante. 


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

NA CONTRAMÃO DO MUNDO

 Me sinto na contramão do mundo, lutando para dar passos quando há uma multidão que vem na minha direção e que me impede de andar. Todo início de ano, me vejo querendo trabalhar mais para ganhar mais. Ao mesmo tempo, quando o trabalho chega e começa a correria, percebo que não é isso que quero realmente. Não sou preguiçosa e muito menos avessa ao trabalho. Adoro estudar, adoro dar aulas, adoro pensar no que vou levar para meus alunos, gosto de ler o que eles escrevem. Mas quando tenho muito trabalho, não consigo fazer o que gosto de fazer, pelo prazer de fazer, e o trabalho, muitas vezes, se transforma em sofrimento.

Já tentei me exigir menos, fazer menos e não me cobrar tanto, mas só isso não alivia o peso que carrego. Meu ritmo é singular, gosto de sentar e me entregar ao que estou fazendo, gosto de curtir as leituras, de imaginar minha sala de aula. Quando estou pressionada pelo tempo e pelo volume de tarefas, me sinto oprimida e todo meu esforço se torna em vão. Muitas vezes, me vejo indo para as aulas com a expressão dura, cansada, me espremendo para dar um sorriso. Como posso educar assim? Como posso ser exemplo se estou correndo para dar conta de tarefas? Não gosto que meus alunos me vejam assim, como um ser humano atormentado e confuso.

           Alguém pode dizer: a vida é assim, todos precisamos de dinheiro. Mas não me convenço. Quero tempo!!! Quero tempo pra acordar devagar de manhã, fazer minha meditação e olhar pra minha mente. Quero tempo pra pensar naquilo que é essencial na minha vida, pra conversar com as pessoas ao meu redor, pra cuidá-las, pra dar-lhes atenção. Quero tempo pra cuidar, eu mesma, da minha casa, das roupas, da comida que como.

           Quando olho ao meu redor, vejo pessoas assoberbadas de trabalho, contando os minutos no relógio. Pais que trabalham para dar mais presentes aos filhos e que, contraditoriamente, não têm tempo para dar-lhes atenção e carinho. Professores ansiosos por darem conta do conhecimento disponível e por produzir novos conhecimentos quando, muitas vezes, sabem que correm atrás de algo que lhes vai sempre escapar.

A busca desenfreada por atualização permanente virou uma obsessão e, ao mesmo tempo, uma prisão para muitas pessoas. Dentro de muitas instituições, o ser humano vale não pelo que é, mas pelo que conhece, por aquilo que lê, pelo volume de publicações que acumulou ou pelo número de títulos acadêmicos.  Para outras pessoas, a felicidade e o sucesso dependem daquilo que têm, do quanto conseguiram acumular ao longo de suas vidas.

        Às vezes, mesmo querendo lutar para fazer um caminho diferente, sou capturada por esses desejos e valores. Nesses momentos, me sinto como se me perdesse de mim mesma e não me reconhecesse mais. Um outro eu se instala e começa a atuar no meu corpo e na minha mente à revelia de mim.

Muitas vezes, poderia me sentir feliz com aquilo que tenho, mas quando vejo, por exemplo, que minha colega de trabalho tem o carro do ano e o meu é um modelo 2000 e não tenho perspectiva de trocá-lo, sinto vontade de trabalhar mais para ter um carro melhor. Minha felicidade, então, passa a ser buscada a partir de parâmetros que não são os meus de verdade. Quando olho para o carro da minha colega, esqueço de olhar pra dentro de mim, para o que realmente tem valor na minha vida. No fundo, todos estamos sofrendo por acreditarmos, mesmo que momentaneamente, que a felicidade pode estar em coisas como um carro ou um título acadêmico.

A realidade depende de nossa percepção. A realidade não é dada, mas é construída. A realidade não é algo objetivo, que independe de nós. Então, por que criamos muitas vezes uma realidade tão aprisionante para nós mesmos? Qual é o sentido desse movimento incessante em busca de coisas tão provisórias? Para onde estamos indo? Aonde queremos chegar?

        É possível viver e ser feliz sem correr para ganhar tanto dinheiro? Sim, é possível. É possível viver sem almejar ter uma casa própria ou um carro novo. É possível ser feliz sem ter tanto, sem ter tantas roupas, tantos sapatos, tantos celulares e computadores. É possível compartilhar a vida com os outros, dar e receber, e ser feliz.

A riqueza e a felicidade parecem estar onde estão a generosidade e a simplicidade. Quando unimos nossas pequenas quantidades, há sempre abundância. A riqueza não é, nem pode ser, propriedade privada. A riqueza está disponível para todos, se nos abrimos para dar e receber. A realidade pode ser e será diferente se conseguirmos olhar para os outros e para o mundo com um olhar mais sensível, mais aberto, um olhar que possa ver a beleza e a riqueza no simples viver e conviver. 

Texto escrito em abril de 2007. 

P.S: Hoje, 04/02/22, relendo este texto, escrito há 15 anos, e tendo mudado consideravelmente minha vida na direção em que eu almejava anos atrás, percebo que a mudança se constrói com o tempo e a persistência de cada passo que damos ao longo da jornada. Mais que tudo, quero reafirmar que “sempre é possível mudar”. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

OLHAI PARA OS LÍRIOS DO CAMPO…

Dia desses fui convidada, ou melhor, me convidei para um café da manhã com três monges budistas na casa de uma amiga que está seguindo o caminho de Buda. 

Os monges são da tradição Theravada e vieram de Minas Gerais até Caxias do Sul/RS, onde resido, para daqui iniciar uma longa jornada, caminhando e parando para meditar nas florestas, como o Buda fez há dois mil e quinhentos anos atrás. Eles não carregavam quase nada, a não ser uma sacola com alguns pertences e uma tigela de mendicante. Na sua tradição, eles comem apenas aquilo que lhes é oferecido, no período da manhã. Após ao meio-dia não comem mais. 


Eles vestiam roupas como as que Buda vestia, uma túnica e um manto, e calçavam chinelos de dedo. Nada mais. 


Estar com esses praticantes por um breve período de tempo e contemplá-los chegando na casa, deixando suas coisas no chão, fazendo suas preces e tomando seu café da manhã sem falar foi o suficiente para me trazer muita inspiração. 


Na minha vida, tenho aspirado por viver uma vida simples, com cada vez menos pertences, menos coisas, menos complexidade. 


Iniciei minha trajetória profissional como professora do Ensino Fundamental, mas logo depois passei em um concurso para a carreira de professor universitário. Com o passar dos anos, fui percebendo que a docência universitária demandava tempo e esforço que não me permitiam muito mais do que trabalhar. Eu ansiava por tempo, por tempo livre e por diminuir a complexidade da minha mente e da minha vida. 


Depois de quase 20 anos no ensino universitário, consegui deixar, me desapegar do mesmo. Abandonei a carreira pública federal, com dedicação exclusiva e, depois, um emprego numa universidade comunitária para trabalhar no ensino fundamental. Passei em um concurso para a rede municipal de ensino de Caxias do Sul e até hoje exerço a função de professora dos anos iniciais. O trabalho mudou consideravelmente e o tempo livre aumentou. 


Nesses anos todos, venho tentando liberar espaço na minha casa, me desapegando de livros, roupas, objetos e muitos outros pertences. Também venho diminuindo as atividades externas, como cursos, atividades sociais, etc. para equilibrar minha vida e ter tempo para aquilo que é essencial. 


Neste ano de 2022, estou prestes a fazer uma nova mudança e a dar um novo passo em busca da simplicidade. Vou mudar para o interior, um distrito de Caxias, que tem apenas três ruas. Estou no processo de olhar para tudo o que tenho e ter que decidir o que vou levar e o que vou deixar para trás. 


Este processo não envolve apenas selecionar objetos, mas selecionar valores, selecionar o que verdadeiramente importa na minha vida. Estou deixando roupas requintadas, vestidos, sapatos e algumas poucas joias que não tem mais a ver comigo. Estou deixando obras de arte, quadros pintados à óleo pela minha mãe e outro que trouxe do Nepal, que são lindos, que embelezaram durante muito tempo a minha casa, mas que agora pesam demais na minha bagagem. Estou deixando livros preciosos, que já foram muito importantes pra mim, mas que preciso guardá-los não mais na estante, apenas na minha mente, porque já os contemplei o suficiente. 


Como os monges que conheci em um dia de passagem, eu quero caminhar na vida com apenas aquilo que posso carregar. Sei que ainda tenho muito a me desapegar, mas sei também que já deixei toneladas para trás. 


Hoje, na caminhada diária que venho fazendo como prática de contemplação e meditação, descobri que a beleza e a riqueza da vida estão presentes a cada passo. Tendo passado em frente ao edifício de uma amiga, resolvi apertar o interfone e apenas dar um alô e desejar um bom dia. Para minha surpresa, fui convidada para um café, que não havia tomado ainda. Fiquei emocionada com a sintonia entre nós, porque naquele momento ela também estava pensando em mim. 


Depois de ficarmos mais de uma hora conversando sobre nossas vidas e sobre o rumo que queremos dar a elas, ao voltar para casa me deparei com um saquinho pendurado na lixeira amarela, de lixo seletivo, perto do meu prédio. Fiquei curiosa e, ao olhar, constatei que eram biscoitos, embalados como oferenda para quem tivesse passando, com fome. 


Na hora, o que veio à mente, foi a passagem da Bíblia que li num livro recentemente e que deixo como reflexão, para mim mesma e para os leitores: 


«Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou há de aborrecer a um e amar ao outro, ou há de unir-se a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos da vossa vida pelo que haveis de comer ou beber, nem do vosso corpo pelo que haveis de vestir; não é a vida mais que o alimento, e o corpo mais que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai celestial as alimenta; não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Por que andais ansiosos pelo que haveis de vestir? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam, contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus, pois, assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Assim não andeis ansiosos, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois os gentios é que procuram todas estas coisas); porque vosso Pai celestial sabe que precisais de todas elas. Mas buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.» (Mateus 6:24-33)


quinta-feira, 11 de novembro de 2021

SÓ POR HOJE

Só por hoje

Eu te encontrei

O amanhã não sei

 

Só por hoje

Estou aqui

Amanhã não saberei

 

Só por hoje

É o tempo dessa relação

O amanhã é vazio

 

Só por hoje

O desejo surge

No amanhã se vai

 

Mas o amor...ai, ai

 

O amor foi ontem, é hoje e será amanhã

 

O amor não divide,

Ele une

 

O amor não separa,

É uno

 

O amor não é para um,

Mas para todos

 

O amor está em mim,

Em ti, em nós

 

O amor não teme,

Nem espera

 

O amor não prende,

Mas liberta

 

O amor está aqui e agora

É o que somos,

do que somos feitos

 

Só por hoje...

 

Que o foco seja sempre

o amor!

 

Em 08/06/20

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O DIFERENTE EM NÓS

Lidar com alguém diferente e que, a princípio, nos causa aversão, não é nada fácil. A primeira reação é agir “corretamente”. Afinal, somos pessoas éticas, politicamente corretas e não admitimos desrespeito ao outro. Apesar de nunca nos termos deparado com um contexto tão pouco familiar, somos pessoas bem informadas e racionais, que sabem minimamente agir diante do desconhecido. Respondemos com delicadeza, somos gentis e solícitos. Em tempos de inclusão, quem quer se mostrar como alguém que não aceita as diferenças?

Depois de um certo tempo de convivência, no entanto, a máscara da “boa pessoa” começa a ceder e passamos a mostrar quem realmente somos. Duas horas com alguém muito diferente de nós bastam para disparar nossa impaciência e a reação, quase instintiva, de fugir da situação. Algo começa a nos incomodar por dentro e, sem perceber, tratamos de inventar motivos para ir embora. Surge uma inquietação que toma a forma de perguntas e “falsas” certezas: “Por que estou aqui, por que tenho que passar por isso? Eu não preciso disso, eu não tenho nada a ver com isso”. 

A grande maioria das pessoas, infelizmente, não ultrapassa esse limite. Aprisionada pelo medo do diferente, foge da experiência e das inúmeras possibilidades que ela pode oferecer. Transpor o limite entre o conhecido e o desconhecido é um grande risco, mas é também uma grande aventura. E a aventura começa quando nos “jogamos de peito aberto”, permitindo-nos viver, de fato, e não apenas fingir. 

É só aprofundando a relação com o outro, diferente de nós, que podemos viver e retirar algo da experiência. Se nada fica, se nada marca, é porque não vivemos, é porque nos fechamos em nós mesmos. É paradoxal, mas à medida em que nos fechamos em nós mesmos, nos fechamos para nós mesmos e à medida que nos abrimos para o outro, nos abrimos para nos conhecer, para nos encontrar conosco.

Parece que a nossa real dificuldade não é a aceitação do diferente no outro, mas a aceitação do diferente em nós. Por isso fugimos, por isso temos tanto medo. Há uma ideia banal, que parece até clichê, mas não é: o que vejo no outro está em mim; o mundo é meu espelho. 

Conviver com uma pessoa diferente e “especial”, seja ela um deficiente físico ou mental, ou até um ser humano dito “normal” pode ser uma experiência maravilhosa quando se está aberto para conhecer o outro e a si mesmo. Essa pessoa, na sua “especialidade”, vai nos mostrar exatamente o que precisamos aprender, pois ela tem a habilidade para isso.

Quando olhamos para uma pessoa com deficiência intelectual, por exemplo, podemos ver o quanto não aceitamos o nosso lado frágil, ingênuo, repetitivo, inquieto, infantil. Também podemos enxergar aquele aspecto de nós que já foi excluído um dia, por nós mesmos ou pelos outros, e que teima em querer aparecer, em querer viver, mesmo que tentemos escondê-lo.

Ao nos relacionarmos profundamente com alguém assim, tão especial, podemos também descobrir o quanto há de belo no outro: o olhar sincero, o abraço inesperado, a intimidade que tanto necessitamos e que ele pode nos dar. E, aos poucos, vamos enxergando um outro lado de nós, ainda mais desconhecido: um eu capaz de amar, de dar, de ser espontâneo, enfim, de aceitar o outro.    

Num dia desses convivi com um ser humano especialíssimo, sobrevivente de uma hidrocefalia de nascimento, que me fez abrir o coração. Na despedida, quando olhamos nos olhos um do outro, percebi, por trás de toda aparente diferença, o quanto somos iguais, o quanto queremos ser aceitos e amados por aquilo que somos, sem restrições. Ninguém quer ser excluído, mas sem perceber excluímos muita coisa em nós antes mesmo de mostrar aos outros.

Esse menino me ensinou a olhar para um lado de mim que não via, um lado frágil e excluído, que luta para ser aceito, olhado pelos outros. Um lado que quer existir, mesmo que o mundo todo diga, embora negue, que ele não tem direito e que deve ficar guardado, escondido, obscurecido.

Percebi que perdemos muito tempo mascarando quem somos. Às vezes, passamos a vida toda mostrando um eu disfarçado, um eu social. Pessoas como o menino que conheci são especiais justamente porque não escondem nada, porque são o que são.

Pensei que, da próxima vez que encontrar alguém como ele, não vou desperdiçar o tempo tentando fugir. Vou me entregar à experiência, vou mostrar minhas fragilidades, vou ser eu mesma. E ser eu mesma não é ser o que sempre fui, não é agir segundo um padrão pré-definido, mas ser uma constante abertura ao outro, porque o outro está em mim.   

Escrito em março de 2006.

LEIA, POR FAVOR...EU TE AMO

Era hora do chá. Todos os dias, a mesma hora, Sara tomava chá com biscoitos antes de ir para aula. Nesse dia, sem saber porque, resolveu checar seus e-mails. Entre eles, havia um, com o título “leia, por favor...eu te amo”, que lhe chamou atenção. 

 

“Te amo demais!

Preciso dizer o quanto amo você!

Às vezes você passa e eu fico te olhando, morro de medo de falar contigo e você me rejeitar.

Espero que você pelo menos se interesse em ler o texto que fiz, nele pelo menos eu digo quem sou. MAS POR FAVOR, NÃO FIQUE COM RAIVA DE MIM!”

 

Ao terminar de ler, sentiu uma pitada de orgulho e ficou curiosa para ler o texto em anexo. Tentou abrir, mas não conseguiu. Enquanto relia a mensagem, Sara indagava-se sobre quem seria que mandara aquela declaração de amor. Não costumava sair, a não ser para ir ao trabalho. Muito menos dava seus dados pessoais para desconhecidos. Talvez seja algum aluno! Esse pensamento passou por sua mente numa velocidade que quase ela não percebeu. Será que poderia admitir isso pra si mesma? Um aluno? Em 25 anos de Magistério nunca havia acontecido algo semelhante. E logo agora que ela já havia passado da idade de namorar?

Mas a ideia de ter um aluno apaixonado começou a fisgá-la. Achou interessante cogitar essa possibilidade e começou a pensar em prováveis candidatos. O primeiro de quem lembrou foi o Walter. Era um rapaz bem tímido, mas que seguidamente vinha conversar com ela pedindo esclarecimentos e orientações. Lembrou que um dia, em uma aula, Walter olhara sorridente para ela. Quando percebeu, ficou encabulada e virou o rosto. Lembrou de outros tantos olhares que passaram despercebidos no momento, mas que agora adquiriam outro significado.

Continuou a procurar na memória algum outro aluno e lembrou de Ulisses. Ulisses já não era tão jovem; talvez já tivesse uns 35. Mesmo assim era bem distante dos seus quase 60. Ela já prestara atenção nele. Geralmente se vestia formalmente, com calças de tergal e sapatos. Lembrou que um dia ele fora à aula de terno e gravata. Sara gostava de homens bem vestidos, num estilo formal. Mas Ulisses não parecia estar interessado nela. Mas e ela, estaria interessada nele? Nunca havia pensando sobre isso, era como se fosse proibido pensar. Lembrou que já havia observado que ele não usava aliança. Nesse instante, derramou o café quente na blusa bege, que combinava com a calça num tom marrom claro e teve raiva de si mesma por estar pensando em tantas bobagens. Sim, bobagens, coisas de adolescente, não de uma mulher da terceira idade como ela! Trocou a blusa, ajeitou o cabelo no espelho, pegou suas coisas e saiu para aula.

Naquele dia, ela se sentiu diferente. Olhou para os alunos não só como professora, mas como mulher. Durante o intervalo, lembrou de retocar o batom e arrumar o cabelo. Olhou-se no espelho e notou que estava com uma expressão mais alegre. Fazia tempo que não se sentia assim em sala de aula, tão leve, tão solta, tão espontânea. Geralmente tinha uma expressão carrancuda e séria, que mantinha os alunos à distância. Nesse dia, alguns alunos se aproximaram e uma moça lhe fez um elogio, dizendo que a aula tinha sido muito boa. 

Sara voltou para casa cheia de expectativas. Quem sabe sua vida estava lhe abrindo uma porta? Quem sabe não poderia viver o amor que tanto sonhara, mas que já havia desistido? Mais uma vez lembrou da mensagem e de Ulisses. Talvez ele fosse mesmo muito tímido para se aproximar dela ou dar a entender algo e por isso havia enviado aquela mensagem. Decidiu que faria algo para tirar a dúvida. Sim, ela precisava fazer algo. Já não podia mais deixar o tempo passar, não podia mais desistir de viver. 

No dia seguinte, acordou cedo, tomou um banho demorado e escolheu, com cuidado, o que vestir. Maquiou-se, colocou brincos e salto alto. No final, olhou-se no espelho e viu uma outra Sara, muito mais jovem e alegre.

Quando chegou à Universidade, algumas colegas conversavam e Sara se aproximou para cumprimentá-las. Todas olharam-na com espanto, sem acreditar no que viam. “O que aconteceu, Sara?” Sara não respondeu, só expressou um sorriso tímido. Enquanto checava sua gaveta, ouviu quando uma das colegas contou a outra que havia recebido uma mensagem anônima que dizia “leia, por favor...eu te amo”. Logo percebeu que o e-mail era uma brincadeira, ou até uma mensagem contendo vírus, como a colega cogitara. Saiu da sala completamente desiludida, sentindo-se uma palhaça vestida daquele jeito. Teve vontade de ir pra casa e dar uma desculpa qualquer para os alunos, mas não teve coragem. Sua ética era muito mais forte do que seu desejo de sair correndo dali.

Sara entrou na sala de aula e todos olharam-na estupefatos, inclusive Ulisses. Até então, ele nunca havia notado a mulher por trás da professora. Nesse dia, não foi possível deixar de perceber. A professora Sara estava realmente bonita, elegante e sedutora.     


Escrito em agosto de 2007. 

ENTREGA

 Não havia mais pudor, nem medo.

Eles podiam sentir a textura da pele, o cheiro, o calor, o contorno do corpo um do outro. No peito de ambos, o coração batia acelerado, querendo dizer algo.

Foram anos aguardando este momento e, finalmente, eles estavam ali, juntos, nus e despidos de preconceitos.

Nenhuma palavra foi dita. Os corpos falavam por si. Corpos humanos, vivos, sensíveis.

Cessaram as vozes alienígenas, cessaram as vozes de culpa e vergonha. Cessaram também a dor e a angústia de viver uma mentira.

Era possível sentir alegria e prazer. Um prazer voraz, intenso, carnal... pura entrega.


Escrito em novembro de 2008.

domingo, 17 de outubro de 2021

POR QUE ESCREVO

 Vivo e escrevo. Choro e escrevo. Sinto e escrevo. Sou feliz e escrevo. Escrever é meu sossego, é meu alívio, é minha pílula calmante. Através da escrita eu penso, eu sinto, eu me conheço, eu me desnudo, eu me EXPRESSO. Escrever já faz parte de mim, do que sou, do que quero ser. 

Eu tenho a ânsia de me expressar e, ao fazer isso, eu me compreendo e, assim, aquieto minha mente. Minha mente agitada precisa “criar”, dar forma ao conteúdo caótico que se passa dentro de mim. Quando escrevo, organizo, seleciono, crio.  

Mas escrevo também para ser lida, para afetar, para mostrar possibilidades... Os leitores encontrarão nos meus textos outras Carlizas, personagens de mim mesma, desconhecidas para a maioria deles. Gosto de me expor. Ao me expor eu toco, eu mexo, eu provoco...

Olhando para minha escrita, a vejo como uma escrita do interior. Eu foco aquilo que se passa dentro de mim, à medida que experiencio a vida. Este estilo de escrita revela meu modo de ser introspectivo, um estilo muito pessoal, em que me isolo do mundo para me observar e refletir. Observar o que se passa na mente, o que penso, o que sinto, por que me angustio, por que me alegro, por que estou triste ou feliz. Estar comigo mesma em profundidade é tão necessário para mim quanto respirar, comer, dormir.

Gosto de pensar a escrita como uma tentativa de mostrar a beleza de cada situação, seja ela trágica ou engraçada. Ao escrever, emolduro a minha realidade, faço arte da minha vida e ela se torna mais bela e mais prazerosa de ser vivida.

Através da escrita eu crio e recrio a minha realidade. Os textos não traduzem uma verdade permanente, mas o que senti no momento em que escrevi. Minha escrita flui junto com a emoção e com a reflexão dos acontecimentos. Vejo meus textos como possibilidades de mim mesma, não que eu as esteja concretizando, mas são alternativas sempre disponíveis. Este é o significado dos textos para mim: são como portas que se abriram um dia e que permanecem abertas. São possibilidades sempre disponíveis que me trazem a liberdade a que tanto aspiro.  

Mas nem sempre minha escrita traz consigo essa promessa de liberdade. Nem sempre ela flui livremente. Aprisiono-me, quando, na ânsia de encontrar uma forma mais bonita e perfeita de me expressar, deixo de escrever porque não a encontro. Aprisiono-me, quando, na ânsia de ler mais e mais para ter conteúdo para meus textos, perco aquilo que quero dizer e fico refém do dizer dos outros.

Meu desafio tem sido encontrar aquilo que eu quero dizer, o que é mais profundo em mim, por mais que saiba que não há um eu puro e que o texto, expressão desse eu, é sempre resultado de várias vozes. Busco dentro de mim algo que não encontro fora.

Às vezes busco modelos, como se houvesse uma voz interna que diz que o que escrevo não é o que “deveria escrever”, que não é o “melhor”, que não é “literatura”, que não é “isso ou aquilo”. Quando dou ouvido a essas vozes, que me impõe um ideal de escrita, me sinto completamente incapaz e não escrevo.

Quando me vejo assim, tento aceitar minhas limitações, aceitar que posso não ser tão absolutamente original quanto gostaria e continuo escrevendo. Procuro pensar que os modelos são apenas modelos, que não podem e nem devem servir para todos, e que eu sou única na minha singularidade.

Por fim, escrevo por rebeldia, para dizer não aquilo que me aprisiona, para enfrentar meus medos, para criar linhas de fuga. A escrita, para mim, é um grito de liberdade.

 

Texto escrito em 2006, quando iniciei as oficinas de escrita no Curso de Pedagogia da UCS.

É PERMITIDO ENVELHECER

Hoje é o primeiro dia da licença de três meses que antecede a minha aposentadoria. É muito bom poder realizar a minha rotina antiga - medita...